31.1.06

Registro

Tenho tantos nomes quanto quiser
Dos catalogados existentes, quaisquer
Ou inventar na sua boca outra pronúncia
Para o nome batizado na minha carne
...é só um nome de mulher.
Metrificado forte pelas sílabas
Nas cordas da sua voz - pelos laços e pelos nós
Invocado a viver, numerologicamente mágico
me chama pelo nome, eu atendo
Mas o que me atrai é só você
Arrasta-me pela pele tatuada iniciais
De um signo humano, símbolo de paz
O som do seu fonema me extasia sem querer
Não é comando, é só uma gentil sugestão
No espaço entre maximilar, no céu há estrelas
E desta língua, saliva, gengiva, músculo
Advêm beijos profundos
Abro a boca e emudeço na garganta
E articulo a emoção como se um mantra
E me conjuga como um verbo
Me ritma uma canção
Me insere num diálogo
Me desdobra em oração
Participa de mim metabólico
Recebe-me como sinal
Invadindo sua rede
Exclusiva do seu sal
Parabólica humana
O seu nome é meu canal.

19/04/99
8:48h

30.1.06

Predestinada

O infinito está a um passo
há inúmeros caminhos
Mas existe também atração
Que tensiona linhas paralelas
Que soma gentes opostas
Abstrai almas irmãs
Por mais que se tente
O contrário é muito real
Por mais que o que veja
Não passe de ilusão
Como se tudo o que acredito
Fosse tudo uma mentira
Grande, cruel e mal contada
Se tudo o que sentisse
Fosse somente uma paixão
Ou se só fosse solidão
Continua sendo de verdade
Como enxergar colorido
Se eu tivesse olhos azuis
E enxergasse tudo céu
Borboletas cítricas no quarto
Peixes quentes nadando
Nos meus olhos
E no de ninguém mais.

17/12/98
mais ou menos 21:00h

26.1.06

De natureza volátil

Espartilho, partitura, me libera!
Quero que meu corpo seja terra
Elevou-se do pó e virou areia
Do rio, do mar, banhou sereia

E deitar e ser horizonte calmo – chão
Ao insinuar relevos, conspirar acidentes
Saltos e quedas, planícies distantes...
Saltar as quedas, planejar as planícies

Extrair lava profunda, roçar superfícies
Almejar picos mais altos, garimpar diamantes
Dominar correntezas, sulcando constantes
Render-se às estações, devastar-se com o vento

Encharcar-se quase humano de sedento
Tombar soberana o que não passa do chão
Tremer quantos graus na escala... aquela
O desejo corre por mim à noite o teu colchão

Como a sombra que cobre, deita e se estende
Como a chuva que ameaça, atravessa e
Enxurrada. Fera ou carne, na cadência da caçada
Quero as pegadas, plantações, sobre-humana, paralela
Quero as sacadas, as janelas, as valas e vales abertos
Receber sementes cruas puras ou mudas em rama
E finalmente ser fértil ao homem que se ama.

15/04/99

20.1.06

dinamites e detonadores

Sou um fósforo perto da gasolina
Como ar para a combustão da chama
Um segundo antes de uma bomba de São João
Mas se eu pudesse evitar isso tudo
Não seria mais fósforo
Não haveria mais chama
Nem explosão e nem bomba
Nem calor e nem fundo
Para saber da superfície

vestido negro rodado

O que mais me admira é o que mais me assusta
Em você, em mim, é o que não se vê, e assalta

Tudo o que lhe fez querer mais
Lhe querer bem, me querer mal

Vai ser tão triste este natal
Porque sentirei saudade da sua falta

A sua presença me toma feito obsessão
E o ar que respiro raro e feito é meu pulmão

Chego e minhas chagas rasgam por dentro
Vai e minhas veias arrebentam de tensão

Quanto mais prendo a respiração
Mais sinto seu perfume derramado

Procuro nos pescoços, pulsos e impulsos
E é única e simples a conclusão, lamento

O teu cheiro impregnou no meu corpo
Não passa com chuva banho ou sono

Nem com a estação, do ano, do rádio, do trem
Nem com lágrimas nem com tempo

Vem tomar-me como sua algum outro
Quando lento abro meus olhos

Vejo suas costas dentro do meu abraço
Quando estendo os braços você me acorrenta

Quando tento dormir você me atormenta
E se no esforço de levantar seu vazio me derruba

Quando aperto meus olhos
sua alma suave se encosta...

26/10/98
mais ou menos 18:40

14.1.06

Madalenas

Não há perigo algum
De confundires os vincos
Das expressões do meu rosto
Com a textura do papel da foto
Não há mais qualquer fio tolo
Que se desprenda do penteado
Solto, revolto, não há
Na espontaneidade de todas as tardes
Destas e aquelas
Em redes, e véus, mares, lares
Desfeitos e secos
Pelos teus cabelos e olhares
A precisão é digital nas palmas
Nas impressões das linhas da tua mão
Descompromissado, amanhecido
Sem pão, contato, documentado
Na extremidade de folha em branco
Seria, acaso...?

30/04/03

13.1.06

A flor mais linda é a flor do maracujá

Março fechou nos meus olhos.
Mas mansa é a manhã chuvosa.
Manha esparsa na fenda indecorosa...

Março findou nos meus cílios,
Ainda úmidos, do alto ao chão,
Mas dança é a queda gostosa.

Sedutora no abril das suas costelas
Intencional derrama em cama impiedosa
Sei que ele não gosta dela, pelo jeito que ele me olha...

Bem sei o que lhe aprova
Porque de mim também se desdobra –
A paixão.

Eu sei seu paladar
Sei o ar dos seus pulmões
Da tua camisa, os botões
Teus músculos desabotoar
Vou aprender a tabuar

Precisas se aprofundar em mim
O homem - Vens me beijar...
Porque o gosto está no caroço
Do maracujá


(quando achou que tinha acabado
se acabado em tanta carne da fruta
no que se depreza vem o sumo
e eu sumo nesse deleite)
09/04/99