26.9.05

Trema

O frio é poesia monocromática
Dias brancos, tardes cinzas
De preto se faz o escuro
Do vinil o lado B,
Meu gosto é eclético
Meu paladar de misturas
Componho pra mil vocês.
Enquanto tremo,
Me declaro sob tinta
Ou cúmplice no grafite
Eu redijo dossiês
Onde consta seus favoritos
Os prediletos são artifícios
Como inverno pra ter que aquecer.

21/04/99

Plural

O sol me toca e faz inspirada
tudo que me leva a sonhar com o mar
acordar apaixonada
numa manhã de outono
cair ao chão pousando sono
pausando réstias iluminadas
que fazem luzes no meu corte novo
venezianas fecham minhas cores
e quando natural deveriam
desfalecer e sumir
não se ferem e nascem
é cinematográfico o que sinto
e o que vejo se ilude no cristalino

Há viagem entre ambições e saudades
tenho lugares – em que estive, e outros...
em que se vive, sem nunca ter alcançado olhar -
divino -
ao que me acostumo e o que me devora
de tudo eu só não possuo a hora
de te ter em companhia
vir tocar minha campainha
primavera na minha voz
pousa à tarde rouquidão
que o verão secou, tremeu, frissons
as passagens já estão marcadas
rotas inesperadas como miradas-anzóis
pescando-me fresca em universo de sóis

21/04/99

por que não?

Quisera ser meu par
por sobre dentes rodopiar
mas se ventar um pouco mais
será amanhã
e de repente quis dançar sozinho
fora do ritmo mas sozinho
e só sozinho ser e o ar
e eu me vi perder o salto
Observando-te fora do ritmo
mas te acompanhando o passo
sozinha só e minha
quisera ser, dobrar

31/12/99

Armarinho

Você sempre foi apocalíptica
zíper, sianinhas, carretéis
de linha, lilás e azul
transpassa, perspassa, viés
trapézio, tubo e godê
franze a sua linda testa
arremata meu coração
quero que me costure a você
seus dedos na minha mão
sua boca no meu queixo
minha nuca no teu peito
furo o meu indicador
ao pensar na minha paixão
tire a medida da cintura
e me costura bem apertado
aos quadris, aos botões
para que nunca solte os pontos
para que nunca solte a renda
nunca laceie a fazenda
o nó fique bem atado
que nós façam mil encontros

19/02/99

As curvas de nível da sua topografia

Comoção de espírito
elástico em sorrisos
fibras e febres em série
de ritos e retas e
curvas ilícitas
músculos, óculos?
ah não posso mais
fingir que não é comigo
fingir que não consumo
e mais: que não abrigo!
tamanho terrorista
bombardeando meus sentidos
um beijo incestuoso
em olhar expressionista

5.9.05

Profundo

o
silêncio.
sigma
a cada dia
significa
e silencio
mio
vazio!
o silêncio
cheio
imenso
minúsculo
condão
perdão...
pia
era
minha
culpa
púrpura
síndrome...
dorme
singela
inerte
apatia
profunda
voz
e nós?