25.5.07

Elemental

peroba do campo, cedro, angim...
hoje eu posso e quero apenas ser
como um pedaço de alguma coisa
uma ínfima parte da natureza
como um toco, tora, um tronco
de madeira e, derradeira,
sem raízes mas com todos os seus veios
e anéis de crescimento
os nós, as falanges, e a seiva suculenta
a densidade, o peso, as camadas
a textura e o argumento
inevitável que existe no gesto
de intencionar ser
um galho ao vento que fui
agora ao relento, por hora só madeira
sem pressa, só elemento.

24.5.07

Mina

Minha mina
imune à sina
munição na veia
água na tina
e na intimidade...
...baixa imunidade
a humanidade predomina.

Mina minha,
que imune à sina ninguém é.
mina minha força.
e então vem ser minha munição,
soro na minha veia,
a aguar-me, quando a mente anuviar
acordar minhas manhãs
na intimidade das camadas descobertas
onde, dentro, a humanidade predomina.

23.5.07

respondendo ao seu silêncio

, respeito, entretanto, seus métodos
de ausência moral...
mas me mantenha alheia
às margens reticentes
das promessas, relutante
ao acaso e à ocasião
e se por uma hipótese
apenas uma hipótese
se fizer ponte
(entre os pontos de influência
e os afluentes em que
se transformaram meus olhos
chorosos de pranto e pudor)
e se houver ponte,
me diga a verdade?
- você me tem amor?

yin

não quero usar nenhum veículo
e sim fluir sem intermédio
de nada nem mesmo
o músculo da língua

17.5.07

Monossilábico

não me queira definir em palavra
trancafiar o que sinto no português
se nem no meu peito arrefece

atar a uma linha e pontuar em parágrafo
pois o que importa estaria nas entrelinhas
nos interestícios das sábias pausas

foge ao meu vocabulário, não está no dicionário
em nenhum código alfanumérico
se perde em sílabas, todo abecedalho

não basta para traduzir
a mensagem destas letras
na sintaxe das suas costelas

16.5.07

Pára-quedista

O tempo é curto, a vista é grossa
relógio no pulso é como grade na janela
eu prefiro ser a sermão
o pé da profunidade exata das coisas
tampouco me atrai o celibato
a clausura...
e todas as cláusulas do contrato
não caibo nas margens desta foto
nem em nenhuma medida
do sistema métrico internacional
eu não faço mesuras
porque é da minha natureza,
não paro quieta, não paro móvel
odeio dieta, odeio limite
que dita o fim e a forma
sou radiotiva, sou elétrica
mas não passo aperto num fio
atrito no trilho, não ando na linha
simplesmente não faz meu perfil
tampouco me atrai a hora certa
errada? sempre é, ou não é
nem tudo é tão definido e definitivo
às vezes desplicentemente fica em aberto
pra sempre neste impulso do agora
empuxo, submerso e nada raso
projéteis: mergulhador ou acrobata!

9.5.07

Permanecerá

Venerada, amada,
és invulnerável ao tempo,
que não te draga ao esquecimento,
e que te traga teu bem aventurado

Teu poço de veleidades
a mantém imune à memória
que escolhe o que permanece
e o que vai enfim embora

Teme assim só à solidão da vaidade
que ao te ter velada, não te compromete
- apesar das reminiscências e saliências tuas -
a mais ninguém ademais de ti mesma

08.05.07

7.5.07

Lábios

territórios, fronteiriças, marginais
- lábios -
o contorno, a gleba, glóbulos
o lóbulo da tua orelha
células, moléculas, hemoglobina.