Espartilho, partitura, me libera!
Quero que meu corpo seja terra
Elevou-se do pó e virou areia
Do rio, do mar, banhou sereia
E deitar e ser horizonte calmo – chão
Ao insinuar relevos, conspirar acidentes
Saltos e quedas, planícies distantes...
Saltar as quedas, planejar as planícies
Extrair lava profunda, roçar superfícies
Almejar picos mais altos, garimpar diamantes
Dominar correntezas, sulcando constantes
Render-se às estações, devastar-se com o vento
Encharcar-se quase humano de sedento
Tombar soberana o que não passa do chão
Tremer quantos graus na escala... aquela
O desejo corre por mim à noite o teu colchão
Como a sombra que cobre, deita e se estende
Como a chuva que ameaça, atravessa e
Enxurrada. Fera ou carne, na cadência da caçada
Quero as pegadas, plantações, sobre-humana, paralela
Quero as sacadas, as janelas, as valas e vales abertos
Receber sementes cruas puras ou mudas em rama
E finalmente ser fértil ao homem que se ama.
15/04/99
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