21.12.05

Água raz?

Liame
Leia-me
Cigano
se engana...
e se ganha!
A toda
rasgo o pano
Vem à tona
conserto e desconcerto
Enquanto Vela-me e desvela-me
não sabe?
Sabido
sido?
sabia dos nós
E anéis
E que pasó?
nos outros
Con nosotros
Infiéis
Só peço paz
não posso mais
voltar atrás
Água raz
rasa, rasa, rasa...

Barroca

de caso, affair, volúpia
a quarto conjugal
impulso com você eu caso
mas de súbito seu descaso
barraco sem colchão
barroca
anjo...
sou mais demônio
ai a aflição!
De ter subcutâneo
Assim o mais entranhado estranho
Que a qualquer outro permitido
Feminina
Ondulada
Chã na aurora boreal
Onde o horizonte
Vira roda gigante
Onde a gente é grande
E eu sou xamã.

(algum dia de 2002)

20.12.05

Hemisférios

um trópico te atravessa pela cintura
tens ondas na altura dos ombros
estou enterrada até o pescoço
neste território mestiço de garoa e maré
que tu me levantas cá no interior
úmida híbrida cúmplice
da probabilidade do destino
compatibilizar-nos amanhã de manhã

Veloz

efêmero, veloz
flash, digital
no denso escuro náutico
da orla do reveillon
teu amor me ilumina
farol, estrela guia
que incita perder-me
nas ondas do teu calor
eu enxerguei o quanto
e sinto tanto...
que expirando
explicito o espírito
o mundo sorri

sensorial

e eu te lembro com tanta doçura
de uma jamais experimentada
do ph mais neutro como a água
de um teor de luz inexplicável

17.12.05

ai ai...

sinto muito
muito mesmo
acerca de tudo que está
aqui lá e transcendendo
está lá, deixa estar
e partir, mas será?
que volta, que veio?
e feio é não sentir
estes efeitos... e não ter defeito algum
porque nenhum fica se perfeito
e de achar que se fez completo
vem a mim que eu te conserto
e te faço mais esperto
de tudo adormecido e inconstante
não me deixe na estante
como fato ou diploma na parede
eu caí sim então jogue-me na rede
diga-me com sede que espera até que eu ceda
e não me seda que eu quero seda
quero cetim serpente na perna
ai que pena
sinto tanto
sinto em mim
serena bala de festim
dissimula enquanto sim

24/10/01

Da ingênua idade

Você até poderia ter sido
O que não se é e sim se torna
Inóspito mas de tudo não insípido
O sécto que lhe segue vida afora
Apaixonados, fiéis e infiéis
Amantes dedicados e predestinados
A sentirem-se consumir o amor
É por hora tudo ou nada
Agora ele é algo que inexiste
Porém persiste ao longo da castidade
Há idade em que foi véu
Há outra em que será papel
E inda outra que será cinza
Mas você até poderia ter sido
O homem da minha vida
Se minha vida tivesse sido uma só
E sendo uma apenas um fosse amor
Porque os dias se repetem com o sol
Porque os corpos se deitam com a lua
E foi embora como o segundo dia
E o primeiro foi o último a possuir
Ingenuidade

08/11/01

16.12.05

Rubi

Violento
Violáceo
Vem no ácido da paixão
E se entorpece
Não obedece ordem
Nem senão
E quando anda
Faz ciranda
Dos teus olhares
Na direção
Da minha saia
Da minha blusa
Da minha boca
Do meu pulmão
E eu manipulo
Eu dissimulo
Meu rubor com blush e batom
Rubiácea nas maçãs
De rubro e negro ócio
Das miradas contra-luz
Do sol das tardes oceãs

Ventríloquo

Se eu te dissesse...
E se eu disser e dissecar
Toda emoção e secar
Com meus cabelos
Fio a fio fibra por fibra
Retomar o controle
Dos meus punhos
E da minha pulsação
De quando e quanto
Meus olhos lacrimejarem
Quisera
Ter sido tão amada
Qual a altura da tua testa
Saber das salinas que eu produzi
Da saliva que eu gastei
Tentando te convencer da umidade
da tua humilde visão
Me desesperou
Óbvia
Eu estava na tua cara
Eu quis lhe ser cara
Mesmo tendo nada
Saí falida
Ou enobrecida?
Puro sangue azul do céu
O amor esta nas moléculas
Do ar, cada vez que respirar
Me apaixonar, engravidar
Do ser humano
Gerir vida, gerar gérbera
Reverbera em partículas
Elementais
Se eu te disser
Te o homem da vida
Minha seria a dor do mundo
Inteiro que parte ao meio
Gravitacionais
Continente
Contendo o volátil
Frívolo, volúvel, fugindo
das mãos por entre os dedos
Solúvel
Retorcida, distorcida na tormenta
Contorceu-me no comprimento
Dos músculos mais alongados e tensos
Até a última gota
Depósito no meu umbigo
Ventríloquo
Voraz

3.12.05

Lâmbida

As horas rolam digitais
Tirando o charme dos ponteiros
O mistérios segue óbvio
Como soma de números inteiros
Subtraem-se nos meus dedos
Amorfos na nova era
Tecnologia incógnita pura
Real, natural e ao mesmo tempo
Obscura – a rigor da matemática
À precisão dos temperamentos
E das circunstâncias aferidas
Arranca as marcas e os passos a lambidas
Mas à maneira da antiga linguagem
Vem a mim estratosférico
Me falar de física quântica
Quando tudo independe do tanto
Porque desse dígito eu tenho muito
Do milagre ganhei o santo

18/09/03
ônibus SP/RJ

fuga após o almoço num domingo chuvoso

Vem na minha respiração, disfarçado no paladar
Daquilo que tomba num domingo após o almoço
Após a perda da consciência dos sons
As rodas dos carros passando no asfalto molhado
E no entanto nada passa

E já é segunda e é segunda ainda
E é como se fosse o primeiro...
Dói em mim um sintoma alastrado
Epidemia correndo e arrasando
Raios de quilômetros concêntricos
A partir da origem tão distante
Do centro tão errante, errado

Rasgou e incendiou as minhas coisas
As coisas materiais que nada deveriam ser
Além de matéria fria e insignificável
E no entanto o que significa?
Além de que você entrou como vírus
Na minha casa, no meu tórax
Inexorável tez

Faz ainda a melhor ponte pra outra margem
Que não ouso, sequer tento atravessar
Cara, o que posso fazer se você me desperta
Não dá pra esconder, não pra escolher
Entre os objetos todos que caem o asteróide-estrela
Entre desejos precipitados o mais pontiagudo
Por entre lençóis revirados e o corpo intocado
Vem sob o tombo do livro que eu escolho ler

E se vai fugindo pelo vão sob a cintura sob o pescoço joelho
O tornozelo... e decido, então, abstrair o efeito
Dos sais do meu mar se dissolvendo
Dos sóis do meu céu se arremessando
Contra o vento, contra o ar que nos separa
Contra a febre da lógica que decide as coisas
Sem saber que amor é loucura

22/02/02