12.12.11

coordenadas

abram-se as alas, as asas e as velas
e deixem-se levar pela vontade do vento
entorpecem-me as narinas ao te inalar
e respiro todo este ar como se fosse só meu
como se a água do planeta não fosse acabar
se todos bebessem-na de um gole só
toda a atmosfera cabe no meu peito
mas eu a divido com você e o mundo inteiro
como se fosse só por misericórdia
finjo que sou dona de feudos e posses
minto que posso e que possuo
para te ter circunscrito entre as minhas
coordenadas

mesmíssimo lugar

qualquer lugar seria destino
ao se querer fugir de casa
caso não fôssemos jabutis
medianos, altos e baixos
são velhas notas conhecidas
meu pára-quedas não abriu
nem eu estou aqui para contar
a história da minha vida
nem sequer da minha morte
assim eu continuo - a mesma
assisto aos mesmos programas
ouço as mesmas músicas
mas me dizem apenas aquelas
com as quais tenho afinidade
molecular, exata, matemática
o resto não me diz nada
passa reto, batido, bege
tudo muda freneticamente
conforme schumann
e eu permaneço
inacabada

corvo

pássaro ou anjo a mim pouco importa
quando os danos às asas são irreversíveis
onde não sei bem mas a gaiola esteve apertada
como blusa de mangas longas num verão fora de hora
ou longas horas de vigília à beira do alto dos muros
falta coragem de alçar vôo, noturno, final e eterno
rumo ao negro do espaço que nos separa
você me acolheria no seu abraço?
pousar-te-ia indolor tal borboleta
no alicerce do teu segredo
são altas horas e não consigo dormir
porque faz muito silêncio
borbulha lava cada vez que aperto
os olhos, os passos, as palmas das mãos
loucura seria pensar que os fatos regem a verdade
nada significa tanto quanto um vazio
o buraco do prédio demolido
a metade da cama intacta e fria
os sisos arrancados
as penas tolhidas
o vômito
o ventre