9.4.06

esses seus olhos pequenos

esses seus olhos pequenos
são velhos conhecidos meus
tanto teor do negro, em comum
apertado numa mesma faixa
estreita, de horizonte azul
toma-me a veloz pulsação
enquanto me perco na sua voz
e cuida para que quando respirar
não leve junto meu leve coração

semana passada

eu, Lua, seu satélite

me leva com você
para o espaço
algum lugar
onde nada exista
onde tudo insista
em você me amar
metálica e lunática
meu corpo de luz
seu leito de leite
deitaria no seu peito
e seria seu satélite
nada seria tão etéreo
mesmo que não eterno
eu lhe amaria muito mais
eu lhe amo mais ainda
do amor que nunca finda
eu lhe quero sempre mais

16/11/98
10 e pouco da manhã

8

Acordei com a resposta
Doce, nos lábios gelada
Guardava-a decorada
Entre as mãos e o coração
Mas ao abrir os olhos
Fascinados e perpétuos
Entre fluidos, águas e óleos
Num limiar mais discreto
Esquecia a revelação
Mas era tudo tão claro
Onde tudo e tão raro
Só sentia o céu e a maçã
Ouvia o céu do infinito
Num horizonte mais bonito
Chamar minha alma, Adrian

04/11/98
12:07h

Meu menino dourado

Ô, menino, quando ele me abraça
Eu não sinto nada sequer
Não vejo, não ouço, mais nada...
Quando me beija como quiser
Sabe que eu te penso abusado
Que não te sou apaixonada
Mas vive na minha saia suado
De tanta pirraça me fazer
Eu consigo não te querer
Teu corpo não é ameaça
Se não estiver perto de mim
Mas se vem tão... respirando
Me despindo de tanto que olhando
Eu resisto só o tamanho
De um dedinho mindim
O movimento do teu achegar
Pira na minha pele arrepiar
Porque eu não sinto nada
Só te quero mergulhar
São passos descalços domados
Calor surdo de uma pancada
Escuro de olhos fechados
Final e vermelho de luz solar e ausente
Sono desperto naturalmente
No peito de alguém fazer lar
O tempo parece parar

22/03/99

Cana

Que fosse a mágoa embora
E dela ficasse só a marca d’água
Que valoriza minha riqueza
Esclarece-me a prudência
Faz-me triste a sutileza
De um simples sim,
Sem clemência...

Gosto de riscar-me com o grafite
Desenhar a letra que me existe
Me ter e a ti, su contenido
Tan contrito quanto aflito
Nestas páginas tão brancas
Equivoca-se, em nada são brandas:
Sopram fogo nas minhas faces.

Doce saber do açúcar a terra roxa
De tanto marrom no espaçar da tua coxa
Alucinante nas queimadas
Efervescente no olhar umedecido
Negro, colhe-me de assalto
Sem que antes eu me renda
A quaisquer dos teus disfarces;

Os meus ares são lilases
Nos seus olhos os meus são azuis
A tensão entre dois passos
Arranca-me vestidos -
Mesmo que eu já esteja nua -
Teu nome no meu corpo
Não fui eu quem pus...

26/04/ano desconhecido

Estampa

estou organizando as palavras para evitar que eu emudeça de tanta voz
e quando acabarem as árvores do mundo, os papéis e os espaços das janelas
os vãos das portas, os cursores finalmente se perderem
como se perdem as canetas mesmo sendo bics
como cessam os grafites e os faxes se apagam com o tempo, inevitavelmente
tatuarei meus poemas nas peles dos meus braços e entre as ancas não esconderei vergonha
e não mais cobrirei as pernas letradas e reescritas e reenviadas de estórias, Sherazade...
serei um livro aberto, em digitais e impressões e gravidezes.

Fazer amor

O ritmo do mundo é tão forte
Que aprisiona meu órgão vital
E não liberta sem antes alucinar
Trancar meus quadris em delírio
Alçar meus pés do chão da terra
Sem nem tocar ou por as mãos
Só olhando forte é que se faz paixão
Só falando baixo se escuta o essencial

17/12/98

Efêmera

Tudo o que eu fiz foi por amor
E desse amor não ficou nada
Desse amor foi feito mágoa
Que como água evaporou

Se foi rápido com o vento
Estações voando lentas
Planando na plataforma que eu fui
Sobra dela o vazio do trem

Da folha no outono
Do sol no inverno
Da chuva de verão
Que não vem, não vem

Flor atrasada pra primavera
Frio tardio para quem morre desidratado
Trégua insípida para mim, menina
Marca híbrida para mim, mulher

16/10/97
9 e pouco...