18.7.06

Pontualmente

descanso de mesa...
na cama à espera
feita, desfeita, banho quente
enquanto água em ebulição
e o bule efervescendo
chaleira chorando...
xícara sorrindo
pires recebendo
o que transborda
às cinco, em ponto.

1.7.06

Águas

nada me inspira sem prazer
de inalar, entrar, deixar sair
parir, comer, umedecer
salivar, chorar, menstruar
tudo tudo deveria ser
naturalmente líquido
se dói, se petrificou?...
se evaporou e finge que não existe
existem atmosferas pra condensar
a vapor não se resume o amor

Sob todos os olhares

A parafrasear Chico Buarque
em dizer 'sobre todas as coisas'
a pairar levitando aerado
sob todo o peso desse céu
e o pisar sobre nossas cabeças
de todos os apartamentos acima...
estamos enlatados, descobri
há pouco, há muito que estamos
encaixotados no desembarque
desacostumados ao chão
ao piso de terra batida
acariciada, socada no pilão
às uvas pisoteadas na tina
como se caminhássemos vinhos
bombeando a nossa pulsação
e apesar de sermos tão efêmeros
o momento não se restringe ao instante
sobretudo permanece paixão adentro
como retrato sagrado na estante
feliz e morna em seu sobretudinho preto
naquele inverno preto e branco