24.10.05

Criado mudo, mesa de cabeceira

Meu corpo tende a teu norte
meus braços se distendem forte
como se eu fosse elástico
me enlaçam, me prendem, rendem
às cadeiras, à cama, a todos os móveis
e nada se move, tudo mal parado
a não ser os fantasmas
daqui a muito pouco serei eu
mobília herdada
mas sou mesmo propriamente muita madeira
e minha voz, inútil, eu perdi, não a tenho
ela fugiu correndo, desesperadamente veloz
a fim de vencer a luz que vem me acordar
todo dia, cada um vazio e sem pressa
nenhuma, eu desafino, piano velho mal usado
e na tensão de um violino gritando
as cordas me arrebentam
me perdoe eu desafino

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