1.10.08

Réptil

A dor cresce garganta adentro, engasgada, no gargalo,
Como se fosse largo gole de mundo tomado a seco
E quando a noite parece impregnar de escuro
Já os ouvidos e todos os estômagos, que temos e não temos,
Como se os órgãos fossem músculos; ela segue
Minuscúla, emaranhando as cordas vocais, despetalando as teclas
do piano das impressões que deixam suas falanges...
Digitais onde jamais deveria ter ousado tocar
Quebraram-se cristais no debandar das revoadas
Dois ou mais pássaros a escapar das mãos tão sujas
Pela intersecção da nossa pequena e ínfima existência
Contra a mediocridade infame de todo o mais
Solto e banal no espaço, opções sacadas das janelas
Debruçadas, eu sigo atirada, como isca ao desespero
E fujo de lançar meu olhar sobre o imaculado
Nem tenho direito de deitar meus sentidos sobre o branco
Das coisas que permanecem na vida intocadas
Mesmo quando vem como morte
A me arrancar de dentro de mim
Pra então forçar-me a caber.

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