3.12.05

fuga após o almoço num domingo chuvoso

Vem na minha respiração, disfarçado no paladar
Daquilo que tomba num domingo após o almoço
Após a perda da consciência dos sons
As rodas dos carros passando no asfalto molhado
E no entanto nada passa

E já é segunda e é segunda ainda
E é como se fosse o primeiro...
Dói em mim um sintoma alastrado
Epidemia correndo e arrasando
Raios de quilômetros concêntricos
A partir da origem tão distante
Do centro tão errante, errado

Rasgou e incendiou as minhas coisas
As coisas materiais que nada deveriam ser
Além de matéria fria e insignificável
E no entanto o que significa?
Além de que você entrou como vírus
Na minha casa, no meu tórax
Inexorável tez

Faz ainda a melhor ponte pra outra margem
Que não ouso, sequer tento atravessar
Cara, o que posso fazer se você me desperta
Não dá pra esconder, não pra escolher
Entre os objetos todos que caem o asteróide-estrela
Entre desejos precipitados o mais pontiagudo
Por entre lençóis revirados e o corpo intocado
Vem sob o tombo do livro que eu escolho ler

E se vai fugindo pelo vão sob a cintura sob o pescoço joelho
O tornozelo... e decido, então, abstrair o efeito
Dos sais do meu mar se dissolvendo
Dos sóis do meu céu se arremessando
Contra o vento, contra o ar que nos separa
Contra a febre da lógica que decide as coisas
Sem saber que amor é loucura

22/02/02

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