1.7.06

Sob todos os olhares

A parafrasear Chico Buarque
em dizer 'sobre todas as coisas'
a pairar levitando aerado
sob todo o peso desse céu
e o pisar sobre nossas cabeças
de todos os apartamentos acima...
estamos enlatados, descobri
há pouco, há muito que estamos
encaixotados no desembarque
desacostumados ao chão
ao piso de terra batida
acariciada, socada no pilão
às uvas pisoteadas na tina
como se caminhássemos vinhos
bombeando a nossa pulsação
e apesar de sermos tão efêmeros
o momento não se restringe ao instante
sobretudo permanece paixão adentro
como retrato sagrado na estante
feliz e morna em seu sobretudinho preto
naquele inverno preto e branco

Um comentário:

Anônimo disse...

quisera eu ter esse vinho bombeado nas veias e perceber, embriagado do seu rubro, que o instante dá-me a abertura, a fenda para outros tempos, para a imaginação criadora, para um inverno que repousa em preto e branco sobre a cômoda....